segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Venta



na areia ríspida do deserto.




te perdi,
me perdi
te pedi
perdão
de pé
te prendi
e aprendi

a ir

O tempo vai comendo
as bordas e deixando
o centro

Com custo
ferrugem

come.
Até a cura, dói.

Sem custo
a água
come.
Demora, mas vai.


Depois do susto
seremos pós
seremos mais
sem custo
seremos sãos
seremos tais.

A água só rememora
e vai.
O tempo só apavora,
mas zais
um dia cai.


A água só rememora
e vai.
O tempo só apavora,
mais ais
ou menos ais
mas ele cai.



eu não perco
tempo, o tempo
que me perde

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

E de novo eu aqui
com uma vela acesa
entre os dois peitos
porque não tem
luz elétrica na roça

tem só poço
e como pode
do fundo obscuro
sair uma água tão pura?

Nem ligo para a vela
pro escuro da espera
pros bichos do mato
ciscando na imensidão do silêncio
deixo todos eles me pegarem
me carregando deitada
nas mãos
como formiguinhas transportando cuidadosamente
uma folha leve e entregue àquelas mãos

carregada deitada
nas costas do chimpanzé
no lombo do lobo
na boca do jacaré
eles me levam eles me pegam
eles me comem e eu só vou
indo de mão à corpo de boca
ao ventre de ventre ao rio
tão rente à morte

sem me convencer de nada
indo com oxum
sem vencer nada
indo
sem nada
pela água
do poço

sem nenhuma certeza
só com certa sensação
de ir certa com a correnteza