sábado, 26 de agosto de 2017


Amor líquido
Seres fugindo
Dos seus vazios


Amor romântico
Seres investindo
Em suas ilusões

sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Hoje comi arroz com agrião
Porque você me aconselhou
No pé do ouvido ao violão
E talvez tenha me convencido
Com o carinho da suas mãos
Tãos másculas e tão sensitivas
Que posso tentar limpar meu pulmão
A cura nunca é doce
Mas quando me aqueço
Com sua pele rubra
Percebo que a vida
Em mim
Pode ter um novo começo
Uma poesia às vezes são só palavras
E noutras são um sopro de arpa
No pulmão, como o agrião
Pode nem ser tão áspero
Quanto esperado
E a muda esgotada de andanças
Por terras insalubres
É tocada de seiva
E abre os olhos
Meu coração faz
Sala pro seu, mas você
Só traz a fala

Coração empacado
 defunto frio, sem fala
Alma penada
Alma empacada
Em beco mudo, inverno
Corpo penado
Se de madrugada eu te procuro
é porque ando buscando meu escuro
e se ao amanhecer a água de meu copo é turva
é porque eu enxergo mais sem luz,
e o terror me habita a tarde inteira
por trás do espelho e das vísceras.
E a nódoa destes ventos intrépidos
vincaram o corpo, dobraram as árvores.
E se você não vê que também somou para esta veste negra e esta vista lânguida
é porque vai semear mais peste pelos campos
e quando o perfume das flores mortas baterem na sua porta,
será um eco longo e certo
pelos canteiros de vento
A morte eterna embalsamará o pranto
no murmúrio dos troncos de todo inverno

sábado, 19 de agosto de 2017


Eu quero voltar a ser menina
Pro gosto da tangerina
Cair do pé em minha boca




Eu quero voltar a ser menina
Pra lamber doce no tacho
Do fogão de minha vó




Eu quero voltar a ser menina
Pra subir uma colina
E descer de escorregador




Eu quero voltar a ser menina
Pra bordar a minha sina
Virar estrela na campina
E sonhar com um amor




Eu quero voltar a ser menina
Ter retina cristalina
E ver o mundo sem pavor







Eu quero me deitar, rolar na grama
Pôr pau de fogueira em chama
E fazer olé pra boi



Eu quero é brincar de faz de conta
Contar estrela e perder a conta
viajar de tapete voador




Eu quero o meu verso na viola
Protagonizar minha história
Distribuir muito calor




Eu quero partilhar o que já vi
dança, vislumbre, sentir
Me surpreender com ti






segunda-feira, 14 de agosto de 2017

parmesão com mel e gengibre
é o timbre do vento no corpo
com sol com céu com mar

os lobos uivam
juntos de madrugada
as solidões


guerreiro também
precisa saber rezar

hoje me decidi:
não farei no inverno
planos, nem no verão...


deixarei que se aproximem
da minha pele as estações
sem pressa, sem delongas
só o tempo necessário
para elas serem e sem querer
giz em minha lousa,
fiz a Primavera, louca
para ela vir... 







às vezes suspendemos o tempo
sem pauta
E o mundo vem sozinho em sol maior

nos tocar
Expor ao inverno
Tua parte mais Frágil,
Corpo Guerreiro

domingo, 13 de agosto de 2017

dormir junto é
compartilhar no inverno
o inconsciente
eu ando sempre
esperando o perfume
do jasmim chegar
sonhar sem querer
com você é muita
intimidade

música

até quando vai?
vamos?
voar no além-mar
juntos
eu não quero mais
léguas
esta língua muda
e rastros



o céu está turvo
morro
tempo de acender
as velas
se você não quer
te mato
sopro de dragão

corro pela praia, nado
voo de horizonte, jato
revolvo a areia, marcos
sigo para o fronte

me espere lá
que eu vou
me espere lá que eu vou
me espere lá...
esta espera às vezes
me olha e ri de mim
esta entrega às vezes
me come e eu fico engolida
esta prega no meu caderno
de desenho me dá gastura

a bodega pega fogo de noite
e a gente finge que não
desenterra o passado, cavuca com a mão a ferida
faz suco da minha alma
que as letras de seu nome ainda saem com vida

dou canja na festa destes vizinhos chatos
faço fita e finjo que não
queria chorar, mas distribuo sorrisos e abraços

padeço tão serenamente
quando sei que fogo sem fim é a vida
e me alenta o peito


vou por este caminho de pedra íngreme e áspera,
pois o destino me catou e me largou
nesta via certa de percalço
sigo cega e descalça
talvez meus pés saibam


não me des
espero
me espanto
com tanta paz
com tão sem pranto
será que estou sendo sem saber?
um tiquinho do céu

Reinventando minha cidade

outros e mesmos caminhos possíveis
a cidade dentro da cidade
olhar estrangeiro

me perdi

e me encontro estrangeiro
dentro da minha própria cidade
tem gosto de pitomba com água da chuva
e cheiro
de café coado na hora do adeus

e as tranças, os becos
os caminhos possíveis

são minha metade perdida
esparsa nos cantos

sento na guia
e olho o infinito
ser turista dentro de mim
tomar café com minhas vazantes
e me sentir repleta

porque cada beco
tem uma parte
de minha mônada
e posso aprender

com as paredes
os musgos
as guias
e este desorizonte enevoado


é sempre bom
andar à esmo
tomar café com vazio
e sentir sabores
desconhecidos

é sempre bom
se perder
se deparar com abismos
e ter que reinventar
nossa própria cidade


mar morto
umbigo em trevas
absorto


sem trégua
minha sombra vem
comigo

revolto
ventre sem feto e sem
aborto

fardo em meus
braços
as linhas da
vida

tempo
sem teto
gente
sentida

barco sem
bússola
no vento forte
à deriva

umbigo morto
ventre preso
braço sem gente
linha partida

sem trégua
sem tempo sem corpo
a sombra
caminha