terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

o barco que perdi
era rosa, mas o que
vem vindo, vermelho
o mundo que sonhei
era prosa, mas o que
tem aqui, só silêncios

o sol, às vezes sacode
minha janela
a vida nem sempre
tem sela

o vento vem devagar
os barcos flutuam
não vejo carmim, espero
noto em mim ausências
lares desfeitos, sem desespero

mora no centro, uma paz
do tamanho do meu silêncio
alteio o olhar até a água
para me levar a correnteza
ainda não veio, tem mágoa
presa nos meios, sem palavras
sem rosas, nem galanteios

Nesta sala,
onde o tempo não existe, ou foi suspenso.
onde invertem o senso e a posição dos pés.
Aqui, às vezes encontro meu silêncio, porque
talvez se tenha ido a época a que pertenço
ou meu vestido não sirva mais para este baile
e minha paz flameje mesmo no deserto vazio e denso.




Na outra sala,
toquei num bordado de Penélope, um lenço
de cambraia fina como a minha
vidaeasua
Aqui, duas pessoas nunca se encontram,
mas, talvez, além,
onde a alma faz uma sombra,
tenha sol.


tem horizontes que aprisionam
mesmo quem não é bandido.
há umas portas que dão no infinito,
outras ainda vão além.