terça-feira, 29 de setembro de 2015

quieta aqui
no canto do quarto

ínfima

quase

desapareço

pelo vão

da porta

me deixe


aqui


quieta no canto do quarto
hoje não quero
falar de crases e hiatos
quero meu colo
viver minha dor de fato

me deixe
quero estar assim estilhaçada
me deixe
me ver refletida em cada pedaço

quero minha dor sem tato
lá no canto do meu colo
ser pequena em meu quarto
nenhuma alegria fake
nenhum remake de fato

quero apertar a dor
e saber que neste agora
ela sou eu inteira

e mesmo enquanto me desfaço
ter certeza de inteira
aperreio no meu peito
sem deleite sem esmalte
sou desmanche sou garrancho sou desfalque
e eu quero viver e saber que me desfaço
quieta neste desmanche
no canto ínfimo do quarto

hoje eu não quero
dançar sorrir mentir
falar de crases e hiatos
quero o canto do meu colo
sentir minha dor de fato

me deixe
quero estar assim
e me ver estilhaçada em cada pedaço
quero o canto do meu colo
ser pequena em meu quarto
nenhuma alegria fake
nenhum remake de fato

porque só estando assim
inteira de desmanche
com esta dor tão grande
vai nascer em minhas costas
de gota, sem avalanche
asas de dragão gigante