Sou uma bomba relógio
Transitando entre os mundos
de cima e de baixo
Cospem fogo meus olhos
Minhas palavras, armas
também em brasas
atropelam como um falo
Os fins justificam os meios?
milênios em silêncio me desajeitaram
Dos céus inventados caíram querubins
Sou sensível a tudo que passa por mim
As coisas são vivas, fia
tanto quanto as pessoas
medito em forma de pedra,
mas sou tocada até na toca
O toque é minha cadela no escuro
Meus poros choram, riem
e apreendem quase tudo
Escuto a vida
Mas tenho meus escudos
Para um mundo em que o olhar
é o deleite supremo, eu concluo
Dançar é muito absurdo
Nesta teia de ser
Me protejo ou faço futuros
Se de noite eu vivo mais ávida,
Nos sonhos ou na balada,
De dia, calada,
passados se apresentam
Vou em frente e volto
Aos sussurros, mudo tudo
Meu presente, pressinto:
é um misto deste com outro mundo
Abraços à parte, sou todos os tempos juntos
Infernos e milagres eu conjuro
Avalanches e calmarias
Sabedoria é sacar o encaixe
deste átimo de segundo
Faca na garganta ou no ventre
Rosa no coração ou axé a gente
escolhe com a intuição
Na cheia ou na vazante
essenciais
Luas e interiores
dos seus (não) quintais
Com ou sem (c) asas
vamos: viver é resixtênciAs!
Anjos e demônios nos habitam
os hábitos nos constróem
por isso escolho o trânsito
meu corpo se move
dançando no escuro
e suas metamorfoses
minha dança cospe
cru e canta puro
sou o deserto e o abismo
regras demais exconjuro
regar mais as plantas nativas
pixar mais vida nos muros
respeito minhas luas e as tuas
e por isso sigo segura
trocar de línguas e credos
ser fiel à alma é tudo
ser fiel à chama
à sombra e ao seu absurdo
vamos vestir do avesso
as costuras escancaram
o oculto
desligando os despertadores
Eu danço muito
minha alma acorda
enquanto durmo
2022
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