sábado, 18 de outubro de 2025

Eu Danço Muito

 Sou uma bomba relógio

Transitando entre os mundos

de cima e de baixo

Cospem fogo meus olhos

Minhas palavras, armas

também em brasas

atropelam como um falo

Os fins justificam os meios?

milênios em silêncio me desajeitaram


Dos céus inventados caíram querubins

Sou sensível a tudo que passa por mim


As coisas são vivas, fia

tanto quanto as pessoas

medito em forma de pedra,

mas sou tocada até na toca

O toque é minha cadela no escuro

Meus poros choram, riem

e apreendem quase tudo


Escuto a vida

Mas tenho meus escudos

Para um mundo em que o olhar

é o deleite supremo, eu concluo

Dançar é muito absurdo


Nesta teia de ser

Me protejo ou faço futuros

Se de noite eu vivo mais ávida,

Nos sonhos ou na balada,

De dia, calada,

passados se apresentam

Vou em frente e volto

Aos sussurros, mudo tudo


Meu presente, pressinto:

é um misto deste com outro mundo


Abraços à parte, sou todos os tempos juntos

Infernos e milagres eu conjuro

Avalanches e calmarias

Sabedoria é sacar o encaixe

deste átimo de segundo

Faca na garganta ou no ventre

Rosa no coração ou axé a gente

escolhe com a intuição

Na cheia ou na vazante

essenciais


Luas e interiores

dos seus (não) quintais

Com ou sem (c) asas

vamos: viver é resixtênciAs!


Anjos e demônios nos habitam

os hábitos nos constróem

por isso escolho o trânsito

meu corpo se move

dançando no escuro

e suas metamorfoses

minha dança cospe

cru e canta puro


sou o deserto e o abismo

regras demais exconjuro

regar mais as plantas nativas

pixar mais vida nos muros


respeito minhas luas e as tuas

e por isso sigo segura

trocar de línguas e credos

ser fiel à alma é tudo


ser fiel à chama

à sombra e ao seu absurdo

vamos vestir do avesso

as costuras escancaram

o oculto


desligando os despertadores

Eu danço muito

minha alma acorda

enquanto durmo


2022


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