sexta-feira, 15 de setembro de 2017

O Verdadeiro Fruto do Conhecimento





Para os gregos existem três tipos de amor, philos: donde vem a palavra “filantropia” é o amor fraterno; eros: radical de “erótico” que pode ser o amor carnal, sensual, platônico ou romântico; e agapé: amor espiritual, divino, transcendente. Acho que nós ocidentais, somos em partes, filhos da civilização greco-romana e é fácil reconhecer esta herança em nossos arquétipos e compreensão de mundo.
Já escutei uma psicóloga falar (não sei se ela vai gostar da citação do nome, rs) que nos deram o amor para sobreviver ao karma, como um prêmio ou uma distração. Eu acredito ao contrário, que o maior karma da humanidade é o amor. Trabalhar os afetos é árduo em qualquer instância, philos, eros, isso sem nem falar de agapé, acho que somente pessoas como Cristo, Maomé, Buda, gente deste naipe, puderam tocar o tão transcendente e nirvânico agapé.
O amor perpassa toda relação afetiva e, às vezes se manisfesta como ódio, posse, controle, ciúme, bengala, espelho, interesse, sentimentos que a princípio desenham-se tão egoístas e tão distantes do ideal do amor, não é mesmo? A abordagem psicológica de encontro de um ser no outro ou a espiritual de karma, parecem-me as duas explicações mais plausíveis para nossas associações afetivas. Creio que estamos na vida para aprender e enxergamos em nossos pares, amigos, pessoas próximas nossas próprias falhas, qualidades, pontos a melhorar e fortalecer.  Para mim, philos e eros são mundanos demais e, nem podem ser chamados de amor.
Sempre estamos envolvidos em relações de afeto, somos seres gregários, seja ela em família, amigos, parceiro romântico ou de cama por conta de uma transferência, ou seja, uma projeção de um si mesmo no outro ou por karma, algo que fizemos de errado em outras vidas e temos que corrigir nesta, ou algo bem realizado onde somos premiados. Isso é tão seco e parece ser tão interesseiro e racional que pessoas fofinhas que distribuem corações no dia dos namorados vão me xingar de egoísta, amarga e sem sentimentos.
Eu também sofro e me dedico por amor. Já tomei as atitudes mais estúpidas da vida em nome deste tão aclamado substantivo que toma nossa psique e invade nossas vidas como um ladrão. Por amor posso perder uma noite de sono preocupada se meu afeto chegou em casa bem ou não, sentir a dor da saudade apunhalando meu peito e me partindo ao meio, largar meu emprego e fugir com uma trouxa para morar numa cabana no pólo norte, gastar dinheiro pagando algo para alguém que gosto, varar noites no hospital, fazer bolo, sopa e macarrão, cafuné, dar muito abraço e carinho. Meu coração palpita pelos meus afetos, eles fazem parte da minha vida, eu não sou insensível, sou tocada por eles como qualquer ser normal, dotado de coração, ou de alma, como diriam os russos.
Porém penso sempre, “por que motivos eu me liguei a esta pessoa que está ao meu lado?” e minha resposta é: “porque tenho estes e mais estes pontos para aprender com ela e estes e estes outros pontos a ensiná-la.” A isso dou nome de interesse egoísta de aprendizagem ou projeção manipuladora do meu inconsciente ou processo kármico. Projeção ou karma? Não sei. Só sinto que as relações são o quinhão mais difícil da vida, com elas todos nós sofremos, ninguém se salva, pois para crescer e evoluir é necessário que nos desapeguemos de padrões, hábitos e características que às vezes nos definem ou nos são caras demais.
Aprender é transcender e apesar do ganho ser gigantesco, deixamos neste processo nossa criança para trás e crescemos. É duro se tornar consciente e adulto e tomar a frente da nossa força-tarefa aqui na Terra, exige trabalho psicológico e prático extenuante, dá preguiça até de passar perto de tanta encrenca. Por isso tanta gente foge do amor (mas deixemos este tema para outro texto, rs). Amar é trocar conhecimento e experiência com objetivo de evoluir, através de carinho, companheirismo, cumplicidade e muita, mas muita dor. Mas, talvez, se tentarmos de verdade, a lagarta possa voar em borboleta e philos mais quiçá trisquem com a ponta dos dedos agapé.

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